Ao entrar no escritório, Cristóban notou o lugar muito escuro. A cortina deixava algumas pequenas frestas por onde a luminosidade do sol entrava timidamente.
– O filho à casa retorna... Disse uma voz no fundo do escritório com tom sarcástico. Cristóban procurava, mas tudo o que via era sombras. Uma luz fraca de abajur foi acesa e numa poltrona estava o seu pai, Henrique Fuentes.
– Veio tripudiar sobre a minha carcaça, seu infeliz? Falou Henrique com muita raiva.
– Não, pai... Eu jamais ficaria feliz sabendo que o senhor está doente. Respondeu Cristóban um pouco aturdido com a imagem do trapo de homem que estava sentado à sua frente. Em outros tempos, Henrique fora um homem forte e bem apessoado. Chamava a atenção de longe e vestia-se com uma elegância de dar inveja. Agora, tudo o que restava era a lembrança do que um dia ele foi; não passava de um homem doente, fraco e com feições de morte.
– Sei... E como você sabe que eu estou doente? Perguntou Henrique.
– A Rosa me contou, mas não fique bravo. Ela fez isso porque se preocupa com o senhor.
– Não brigarei com a Rosa. Ela é a única pessoa que me ajuda, e fazer isso seria como dar um tiro no próprio pé. Respondeu Henrique um tanto contrariado.
– Obrigado, pai... E antes que pudesse terminar a frase, Henrique deu uma risada forçada, ácida. Olhou para Cristóban e falou rispidamente:
– Pai?! Eu tenho apenas um filho. Eu deixei de ser o seu pai no dia em que me traiu!
– Eu jamais o traí. Chama de traição usar uma pequena quantidade de dinheiro apenas para ajudar a manter uma clínica popular? Todos trabalhavam de graça, o galpão foi cedido de graça, o dinheiro servia apenas para comprar medicamentos e material de consumo médico. Eu ajudava as pessoas...
– Cale-se! Você usou o meu dinheiro com aquela gente imunda. Praguejou Henrique.
Cristóban olhava atônito para o seu pai e tentava entender como um homem, que naquela época era um dos mais ricos das Américas, poderia renegar o que para ele eram apenas migalhas. Sim, migalhas. A fortuna dos Fuentes era imensa e o que Cristóban desviava para manter a clínica não significava nada para o monumental patrimônio que o seu pai sustentava. Isso também fez Cristóban pensar em como o seu pai pode perder tudo em tão pouco tempo.
Ambos se olhavam: Cristóban, estarrecido; Henrique, furioso. O jovem médico sentia-se nauseado e se perguntava como poderia ser filho de um sujeito como aquele, um verdadeiro monstro. Henrique, por sua vez, fuzilava o filho com olhar de ódio.
– Eu vim até aqui para resolver as coisas entre a gente. Disse Cristóban tentando manter a calma.
– Seu desgraçado, você roubou o meu dinheiro! Disse Henrique transtornado.
– Pai, pelo amor de Deus!... Foi há muito tempo e eu fiz isso para ajudar pessoas que o senhor havia prejudicado.
– Cale a boca! Eles mereceram... Era o meu dinheiro! Por sua culpa eu estou sem nada, a culpa é sua! Esbravejava Henrique.
– Minha culpa? O senhor está fora de si. Estou longe por mais de dez anos, como pode ser minha culpa? Perguntava Cristóban indignado.
– Sim, foi sua culpa! Você me fez perder tudo, mas agora eu vou acertar as coisas. Estaremos quites de uma vez por todas.
– Pai, o senhor não está pensando direito. O senhor precisa de um psiquiatra, está perturbado.
– Perturbado está você. Disse Henrique enquanto puxava, do canto da poltrona, um revolver. Apontou para Cristóban e ouviu-se um estampido seco. Cristóban sentiu um calor intenso no abdome e em seguida um líquido quente lhe escorria. Colocou a mão sobre a barriga e viu que era sangue. Começou a perder os sentidos e desmaiou.
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Pessoal, desculpe a demora em postar a continuação do conto. Na semana passada começaram as minhas aulas, então vou demorar um pouco mais para terminar a saga dos Fuentes - espero que compreendam. Em breve eu finalizarei o conto.
2 comentários:
Aguardando ansiosamente!
Olá, Daniel!
Muito obrigada pelo seu post no meu blog e por ter tê-lo adicionado em sua lista de favoritos.Vou fazer o mesmo.
Feliz Páscoa!
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