Aflita, ela fitava a rua e esperava. Olhava para um lado e para o outro, e nada dele chegar.
Ana Clara era uma jovem virtuosa e fora criada para o casamento. Apesar de sequer completar 18 anos, ela já sabia coser roupas com uma habilidade invejável, além de ser uma quituteira de mão cheia. Ah! Seus doces... Comê-los era como ser beijado por anjos. Sempre que cozinhava, lembrava o que dizia a sua mãe: “Se não pode agarrar um marido pelo coração, agarre-o pelo estômago!” – e ria sozinha. Ana Clara não precisava de tais artifícios, ela tinha atributos que a faziam ser notada: longos cabelos castanhos cacheados, profundos e brilhantes olhos verdes, nariz e boca bem feitos, mãozinhas macias e delicadas, era um primor de moça.
O relógio já marcava 10h00 e nada dele chegar. A jovem esperava pelo carteiro que deveria trazer uma carta de seu amado Francisco, mas os minutos passavam e a angústia só aumentava.
Francisco era um rapaz simples e de sorriso cativante. Sua honestidade, senso de justiça e vontade de trabalhar faziam dele uma pessoa querida por todos. Francisco e Ana Clara conheceram-se ainda com 16 anos e casaram-se havia poucos meses, mas o tiro de guerra e a conturbada situação na Europa levaram o jovem aos campos de batalha italianos. Eram aqueles anos de muito temor e milhares de praças brasileiros foram enviados para combater os exércitos de Adolf Hitler.
Havia mais de um mês que Ana não recebia nenhuma mensagem e isso a inquietava – já que Francisco escrevia com certa freqüência –, a cada quinze dias ela lia e relia as cartas que recebia do amado. Eram bálsamos ao seu coração, mas a demora em tê-las fazia com que chorasse por muitas noites.
Impaciente, virou-se de costas para olhar através da porta da sala até uma parede oposta onde se encontrava um grande relógio de pêndulo montado em um móvel de madeira muito escura. Voltou os olhares para a rua e permitiu-se, por um instante, a distração de observar os vasos que enfeitavam a varanda onde estava. Já haviam passado 10 minutos...
Ouviu então o tilintar de uma campanhia de bicicleta e viu o carteiro vindo da esquina. Ela gelou, ficou estática e só conseguia acompanhá-lo com os olhos até que o viu depositando alguma coisa na caixa de correio. Hesitou por um breve momento, mas ao ver a bicicleta partir atravessou as escadas da varanda em um pulo e em largos passos chegou até as correspondências. Procurou convulsivamente por algo de Francisco, olhou mais de uma vez, mas nada encontrou; entristeceu-se. Ao levantar os olhos, observou um velho Ford com placa oficial parando do outro lado da rua. De dentro do carro saiu um homem impecavelmente vestido com uma farda do exército carregando um envelope nas mãos; estendeu o braço em direção a Ana Clara e com a cabeça ainda baixa disse:
– Senhora, eu sinto muito! Seu marido lutou bravamente, salvou muitas vidas. Infelizmente, em um ato de heroísmo, ele perdeu a própria vida – o homem fez um cumprimento meio sem jeito e partiu.
Ana ficou com o envelope nas mãos, atônita. Faltou-lhe o ar e tudo começou a escurecer; desmaiou. Deste dia em diante, Ana Clara jamais foi a mesma e era possível vê-la todas as manhãs na varanda – até o dia de sua morte – , às 10h00, esperando o carteiro trazer notícias do seu amado Francisco.
Ana Clara era uma jovem virtuosa e fora criada para o casamento. Apesar de sequer completar 18 anos, ela já sabia coser roupas com uma habilidade invejável, além de ser uma quituteira de mão cheia. Ah! Seus doces... Comê-los era como ser beijado por anjos. Sempre que cozinhava, lembrava o que dizia a sua mãe: “Se não pode agarrar um marido pelo coração, agarre-o pelo estômago!” – e ria sozinha. Ana Clara não precisava de tais artifícios, ela tinha atributos que a faziam ser notada: longos cabelos castanhos cacheados, profundos e brilhantes olhos verdes, nariz e boca bem feitos, mãozinhas macias e delicadas, era um primor de moça.
O relógio já marcava 10h00 e nada dele chegar. A jovem esperava pelo carteiro que deveria trazer uma carta de seu amado Francisco, mas os minutos passavam e a angústia só aumentava.
Francisco era um rapaz simples e de sorriso cativante. Sua honestidade, senso de justiça e vontade de trabalhar faziam dele uma pessoa querida por todos. Francisco e Ana Clara conheceram-se ainda com 16 anos e casaram-se havia poucos meses, mas o tiro de guerra e a conturbada situação na Europa levaram o jovem aos campos de batalha italianos. Eram aqueles anos de muito temor e milhares de praças brasileiros foram enviados para combater os exércitos de Adolf Hitler.
Havia mais de um mês que Ana não recebia nenhuma mensagem e isso a inquietava – já que Francisco escrevia com certa freqüência –, a cada quinze dias ela lia e relia as cartas que recebia do amado. Eram bálsamos ao seu coração, mas a demora em tê-las fazia com que chorasse por muitas noites.
Impaciente, virou-se de costas para olhar através da porta da sala até uma parede oposta onde se encontrava um grande relógio de pêndulo montado em um móvel de madeira muito escura. Voltou os olhares para a rua e permitiu-se, por um instante, a distração de observar os vasos que enfeitavam a varanda onde estava. Já haviam passado 10 minutos...
Ouviu então o tilintar de uma campanhia de bicicleta e viu o carteiro vindo da esquina. Ela gelou, ficou estática e só conseguia acompanhá-lo com os olhos até que o viu depositando alguma coisa na caixa de correio. Hesitou por um breve momento, mas ao ver a bicicleta partir atravessou as escadas da varanda em um pulo e em largos passos chegou até as correspondências. Procurou convulsivamente por algo de Francisco, olhou mais de uma vez, mas nada encontrou; entristeceu-se. Ao levantar os olhos, observou um velho Ford com placa oficial parando do outro lado da rua. De dentro do carro saiu um homem impecavelmente vestido com uma farda do exército carregando um envelope nas mãos; estendeu o braço em direção a Ana Clara e com a cabeça ainda baixa disse:
– Senhora, eu sinto muito! Seu marido lutou bravamente, salvou muitas vidas. Infelizmente, em um ato de heroísmo, ele perdeu a própria vida – o homem fez um cumprimento meio sem jeito e partiu.
Ana ficou com o envelope nas mãos, atônita. Faltou-lhe o ar e tudo começou a escurecer; desmaiou. Deste dia em diante, Ana Clara jamais foi a mesma e era possível vê-la todas as manhãs na varanda – até o dia de sua morte – , às 10h00, esperando o carteiro trazer notícias do seu amado Francisco.
6 comentários:
ahh querida Ana, as vezes, custamos a acreditar que o nosso destino seguiu um caminho contrário ao que aprendemos a viver e que não podemos fazer nada pra que fosse diferente.
Quantas vezes morremos a esperar o que nunca vai chegar?!
EMOCIONANTE! Um belíssimo drama!
meodeos tadinha da Ana! :O
Pois é, coitada da Ana Clara.
Não que eu goste de contar apenas as misérias com os meus personagens, mas - sejamos honestos - nem tudo tem um final feliz.
E se a tragédia fosse subtraída da vida, esta perderia um pouco da sua graça. Não é mesmo?!
Ow maravilha achar esse blog. Adoro os blogueiros escritores. Mt bom o texto, espero passar e ler mais.
Tô te add cara, abraço.
Muito obrigado, Heber!
Fico feliz que tenha gostado, então volte sempre que puder porque textos não faltarão.
Um abraço!
Adoro esse texto!
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