Ele abriu os olhos com a sensação de que alguém o chamava. Sentia-se estranho, a cabeça doía demais e do lado da poltrona havia uma garrafa vazia de um uísque barato.
- A apresentação! - gritou e pulou em único salto. Tudo girava. Estava tonto, ébrio... Fedia a álcool e charuto.
Pegou o seu violão e sentou-se em uma cadeira simples. À sua volta, apenas escuridão com exceção de uma lâmpada iluminando um pequeno pedaço de papel que trazia a seqüência de algumas músicas que ele deveria executar naquela noite.
As cortinas ainda estavam fechadas e o instrumentista sentia-se nauseado. Notou que estava sozinho e pensou: “Que diabos! Onde estão os outros?”. Resolveu adiantar-se. Colocou o violão no colo, ajeitou-se e começou a afiná-lo. Apertava uma tarraxa, soltava outra, batia as cordas desde a sexta até a “mizinha” comparando uma a uma até que, no dedilhar, ele notasse que nada soava estranho ao seu apurado ouvido. Para provar que a afinação estava correta, começou a tocar o “Carinhoso”. Acompanhou com a voz numa suave melodia e cantava melancolicamente: “... E os meus olhos ficam sorrindo e pelas ruas vão te seguindo, mas mesmo assim... Foges de mim...”. Uma lágrima escorria, lembrou-se de Alice. Não mais a vira depois que ela o deixou. A bebida e a vida boêmia que levava haviam afastado a sua doce Alice para sempre. Lembrava tristemente da única mulher que realmente amou: “Longe dos olhos e perto do coração”, balbuciava entre suspiros.
Ele estranhava a demora para começar o espetáculo e sequer conseguia ver a cortina tamanha era a escuridão. As suas platéias eram sempre imensas. Todos queriam ver o seu talento extraordinário ao violão. Ele tocava como poucos! Percebera que não se lembrava como havia saído da poltrona e chegado até ali, achou aquilo muito esquisito.
Assim como muitos artistas, seu temperamento era muito forte! Resolveu que começaria a tocar ali mesmo, sem cortinas abertas e sem os demais músicos. As pessoas certamente ouviriam o seu instrumento e gritariam para que a apresentação começasse sem mais demora. Seguiu o roteiro que havia escrito no tal papel e estava tão absorto no que fazia que nem se deu conta que tudo era silêncio ao seu redor... Um silêncio aterrador e cruel.
Acabou a sua apresentação pessoal e estava feliz. Contentava-se consigo mesmo; o orgulho do violonista era grande demais e sua arrogância o tornava um egoísta irremediável: típico de alguns gênios. No entanto, conforme o porre ia passando, ele percebeu que a poltrona estava logo ao seu lado. Notou que além daquela garrafa havia ainda outras já secas, e onde ele pensava estar a platéia encontrava-se a sombria sala do seu apartamento com dois sofás e uma pequena estante. Ele tocara para ninguém porque ele mesmo se sentia assim, um ninguém.
O violonista recordou que há muito estava sozinho e apenas retardava tais lembranças mantendo-se constantemente bêbado. Seu violão era a única companhia que lhe restara.
Amargurado pelas dores infringidas por ele mesmo, o músico retirou-se do palco da vida para cair no mais completo esquecimento.
- A apresentação! - gritou e pulou em único salto. Tudo girava. Estava tonto, ébrio... Fedia a álcool e charuto.
Pegou o seu violão e sentou-se em uma cadeira simples. À sua volta, apenas escuridão com exceção de uma lâmpada iluminando um pequeno pedaço de papel que trazia a seqüência de algumas músicas que ele deveria executar naquela noite.
As cortinas ainda estavam fechadas e o instrumentista sentia-se nauseado. Notou que estava sozinho e pensou: “Que diabos! Onde estão os outros?”. Resolveu adiantar-se. Colocou o violão no colo, ajeitou-se e começou a afiná-lo. Apertava uma tarraxa, soltava outra, batia as cordas desde a sexta até a “mizinha” comparando uma a uma até que, no dedilhar, ele notasse que nada soava estranho ao seu apurado ouvido. Para provar que a afinação estava correta, começou a tocar o “Carinhoso”. Acompanhou com a voz numa suave melodia e cantava melancolicamente: “... E os meus olhos ficam sorrindo e pelas ruas vão te seguindo, mas mesmo assim... Foges de mim...”. Uma lágrima escorria, lembrou-se de Alice. Não mais a vira depois que ela o deixou. A bebida e a vida boêmia que levava haviam afastado a sua doce Alice para sempre. Lembrava tristemente da única mulher que realmente amou: “Longe dos olhos e perto do coração”, balbuciava entre suspiros.
Ele estranhava a demora para começar o espetáculo e sequer conseguia ver a cortina tamanha era a escuridão. As suas platéias eram sempre imensas. Todos queriam ver o seu talento extraordinário ao violão. Ele tocava como poucos! Percebera que não se lembrava como havia saído da poltrona e chegado até ali, achou aquilo muito esquisito.
Assim como muitos artistas, seu temperamento era muito forte! Resolveu que começaria a tocar ali mesmo, sem cortinas abertas e sem os demais músicos. As pessoas certamente ouviriam o seu instrumento e gritariam para que a apresentação começasse sem mais demora. Seguiu o roteiro que havia escrito no tal papel e estava tão absorto no que fazia que nem se deu conta que tudo era silêncio ao seu redor... Um silêncio aterrador e cruel.
Acabou a sua apresentação pessoal e estava feliz. Contentava-se consigo mesmo; o orgulho do violonista era grande demais e sua arrogância o tornava um egoísta irremediável: típico de alguns gênios. No entanto, conforme o porre ia passando, ele percebeu que a poltrona estava logo ao seu lado. Notou que além daquela garrafa havia ainda outras já secas, e onde ele pensava estar a platéia encontrava-se a sombria sala do seu apartamento com dois sofás e uma pequena estante. Ele tocara para ninguém porque ele mesmo se sentia assim, um ninguém.
O violonista recordou que há muito estava sozinho e apenas retardava tais lembranças mantendo-se constantemente bêbado. Seu violão era a única companhia que lhe restara.
Amargurado pelas dores infringidas por ele mesmo, o músico retirou-se do palco da vida para cair no mais completo esquecimento.