Ainda resta alguma lembrança daquela que se foi; sobraram as marcas mais fortes que alguém poderia sentir no peito. Eu ainda me recordo como o seu cabelo muito liso desarranjava ao vento e como logo se ajeitava na primeira passada de mão... Era um cabelo agradável de afagar.
Desde aí vem a torrente de lembranças ruins, uma vontade de nada querer e um desejo de nada sentir. Que saudade daqueles tempos em que eu não precisava da companhia feminina! A minha mente vagava por outras pradarias e a inocência juvenil fazia com que eu visse o mundo apenas como um desafio a ser superado.
Noto que o problema é acostumar-se a ter alguém por perto, porque enquanto isso não acontece, é fácil lidar com a solidão. Depois que se acostuma à companhia é difícil viver só, e o tempo que se leva para tal readaptação é gigantesco.
As pessoas escolhem maneiras diferentes de tocar a própria vida: algumas decidem se juntar, enquanto outras começam a ser seduzidas pelo caminho solitário. É como alguém que toca um instrumento e de repente descobre que gosta mais ou se adapta melhor a outro. Não é uma questão de ser volúvel, mas de adequar-se melhor às próprias necessidades ou condições que a vida oferece; e ao tentar fazer isso, tenta-se arrancar alguma felicidade de onde – aparentemente – ela não mais existe. Para mim, felicidade é sinônimo dessa paz e de tranqüilidade de espírito.
Não desejo muito, apenas a simplicidade. Será que é pedir demais?
Ao final, o que nos resta é tentar viver com as memórias miseráveis que sobraram, ou fazer algo tão incrivelmente diferente que os alicerces de nossas almas tremeriam e teríamos, quem sabe, um pouco de paz.
2 comentários:
Daniel,os seus textos mexem com a minha alma de maneira impressionante.Você consegue traduzir de maneira singela sentimentos que me dominam constantemente.Sublime!
Tudo na vida é a base do costume.
Quando um homem que sempre teve cabelo comprido resolver raspar o cabelo. Ele fica estranho porque sempre foi visto como cabeludo, mas depois de um tempo já não fica tão estranho assim.
Quando convivemos com alguém nos acostumamos em ter alguém sempre ali por perto e quando ficamos só uma tristeza se instala e parece que não vamos sobreviver à aquilo, mas acabamos nos acostumando.
Afinal, nascemos sozinhos (com a ajuda de alguém) e não morremos por isso.
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