quinta-feira, 31 de maio de 2012

Poeta Sertanejo

  O nosso país tem muitos artistas que verdadeiramente cantam a nossa terra, verdadeiros poetas sertanejos que com suas violas encantam aqueles que amam o Brasil. São eles que me fazem lembrar que essa corja que se apoderou da política não representa de fato aquilo que o nosso imenso país é: uma terra abençoada por uma natureza exuberante e com um povo que continua trabalhando arduamente, apesar de todo o sofrimento. Almir Sater é um desses muitos poetas sertanejos e descreve com uma incrível delicadeza aquilo que observa e sente.
  Essa é uma pequena homenagem a ele e a todos os outros poetas sertanejos espalhados pelo Brasil, de hoje e de ontem.



No Rastro da Lua Cheia
Almir Sater / Renato Teixeira


No quintal lá de casa
Passava um pequeno rio
Que descia lá da serra
Ligeiro escorregadio
A agua era cristalina
Que dava pra ver o chão
Ia cortando a floresta
Na direção do sertão
Lembrança ainda me resta
Guardada no coração...


E tudo era azul celeste
Brasileiro cor de anil
Nem bem começava o ano
Já era final de Abril
O vento pastoreando
Aquelas nuvens no céu...
Fazia o mundo girar
Veloz como um carrossel
E levantava a poeira
E me arrancava o chapéu


Ah o tempo faz, tempo desfaz
E vai além sempre...


A vida vem lá de longe
É como se fosse um rio
Pra rio pequeno canoa
Pros grandes rios navios
E bem lá no fim de tudo
Começo de outro lugar
Será como Deus quiser
Como o destino mandar
No rastro da lua cheia
Se chega em qualquer lugar!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ensaio II


E então se sentia livre, uma liberdade estranha ao seu viver e ao seu momento. Sentia que o mundo poderia ser pequenino – como quando criança –, e que todo esse mundo se resumiria em suas brincadeiras felizes no final da tarde, quando as peladas na rua ganhavam contornos de final de campeonato. Sentia que o mundo seria o que quisesse e que poderia guarda-lo no bolso; assim como quando media a lua mirando-a com o seu polegar. Poderia guardar ambos em seu bolso; e também guardaria o sol, os demais planetas e estrelas. Teria todo um sistema solar só seu, e então seria um Deus-menino que usaria os astros celestes como bolotas em uma partida de bolinhas de gude.
Seria livre para visitar mundos, conhecer galáxias, e nada o prenderia ao chão, pois sentia a alma liberta das pesadas correntes. Seu espírito depurado dançaria ao som das ondas do universo, radiante como uma supernova.
Ao final da brincadeira, deitaria calmamente no manto brilhante do céu e seria acalentado pela mão do Deus-pai que o embalaria em sono profundo e reconfortante, como um anjo dormindo em macias nuvens... 
A liberdade transcendia as suas sensações materiais e tocava-lhe o coração com a suavidade de uma brisa. Sentia-se beijado em espírito e, por um breve instante, percebeu que era parte de algo maior, de um misterioso universo de possibilidades infinitas.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Conselhos Amorosos?

Conselhos amorosos? Guardo-os todos para mim.
Não há porque espalhá-los, seria um pecado...
Seria um pecado ensinar-lhes todos os fracassos,
dissabores, mal amores, desamores
e outras tantas murchas flores.
Guardo-os todos no mais profundo do meu ser
e uso-os só para o sádico deleite do meu eu
contra o masoquista coração que bate neste peito.
Saboto-me deliciosamente para ver o circo pegar fogo,
pois que graça haveria em tudo ser tão correto?
A correição que se exploda em mil pedaços!
Se tudo fosse tão preto no branco,
a vida seria sem graça, sem sal, sem sabor...
Mas onde fica então o amor?
O amor, que venha com pimenta! E que arda!
Melhor sentir a vida do que sentir o nada.
Quanto aos conselhos amororos, não os tenho para dar.
Bastam-me os fracassos românticos que me levam sempre a naufragar.