O celular não toca mais
e eu sinto certa falta. É normal. Depois de uns cinco meses o hábito se fez.
Mas assim como o hábito vem, o hábito também vai. Tudo é uma questão de tempo.
Eu não me sinto mal, a
vida é assim mesmo e precisa ser vivida intensamente. Os momentos vividos criam
as experiências e essa bagagem traz o aprendizado. Foi bom enquanto durou.
Não haverá mais
lágrimas ou tristezas, e de tudo o que passei eu prefiro guardar as lembranças
alegres. Quem vive olhando o passado se esquece de viver o presente... e
consequentemente não vive o futuro.
É claro que ter alguém
por perto é bom quando se quer conversar, trocar carinhos, desligar-se dos problemas,
mas o mundo não se resume a esse rol citado (e muitas vezes os problemas surgem
quando se está com alguém). O fato é que existem momentos para se estar só e
momentos para se estar acompanhado. Ambos têm suas vantagens e desvantagens
ditas tantas vezes por tantas pessoas muitíssimo capacitadas, não serei eu a
discorrer todas as vantagens e desvantagens, ou a fazer defesa de uma ou outra.
Darei o meu simplório ponto de vista sobre o que estou vivendo.
Estar só é um momento único,
porque é quando ficamos diante de nós mesmos, olhamos os nossos defeitos,
as nossas limitações, e nos damos conta do quanto precisamos mudar.
Não é apenas a mudança
que é difícil, mas a percepção de que se precisa mudar também o é. Perceber o
quanto estamos errados em nossas atitudes e pensamentos é algo que vai de
encontro com o orgulho próprio, com aquela sensação de “eu não preciso mudar,
estou bem desse jeito”. Será mesmo? Certas coisas precisam necessariamente de
mudanças, não há como fugir. A lei do progresso é inexorável e melhor faz quem
não espera que ela exija que nos mexamos. No entanto, isso exige um tanto de
renúncia e de humildade que muitos de nós não estamos prontos a oferecer.
Ficar só, ainda assim,
é necessário. Mesmo que muitos fujam dessa situação pulando de um
relacionamento para outro. Não há nada como se conhecer, é a melhor maneira
para aprender a se amar. Certa vez alguém me disse que o nosso primeiro amor é
o amor próprio, e assim estar bem consigo mesmo para só então pensar em
sentir-se bem com outra pessoa passa a fazer todo o sentido.
Parece brincadeira, mas
há tanto tempo eu não escrevo e, quando o faço, é inevitável que o meu texto transborde
um ar melancólico. Confesso que às vezes eu prefiro as coisas, como já dizia
Mario Quintana em um trecho de seu poema De Gramática
e de Linguagem:
E havia uma gramática que dizia assim:
"Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta".
Eu gosto das cousas. As cousas sim !...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
[...]