Há algum tempo ela já não estava bem, mas ao invés de me lembrar da doença dela eu prefiro me lembrar de toda alegria que ela trouxe para a minha vida e da minha família, e também da maneira como ela me escolheu. Sim, foi ela que me escolheu!
Eu sempre gostei muito de contar essa história para as pessoas que a conheciam, agora vou partilhar com todos. É uma maneira de homenagear a passagem dela por esse mundo. Um amigo meu, que também é meu ex-professor, queria muito um cachorro; era uma ideia fixa dele ter um pastor alemão. Um dia ele me ligou dizendo que havia encontrado um anúncio de jornal onde se vendia filhotes de pastor alemão. Nem preciso dizer que ele ficou empolgadíssimo e quis, naquele mesmo dia, conferir o tal anúncio. Ele pediu que eu fosse junto porque não conhecia o bairro em questão, e eu fui... apenas para guia-lo.
Chegando ao endereço que foi passado a ele, encontramos uma mulher entre 35 e 40 anos, extremamente cansada, em uma casa enorme onde havia um casal de pastores adultos com três filhotes, e um rottweiler alucinado que parecia querer nos matar. A mulher, com semblante desgastado, praticamente implorou para que levássemos alguns filhotes, pois o rottweiler queria mata-los e, sozinho, batia nos dois pastores adultos. O meu amigo insistiu para que eu levasse um dos filhotes (eram dois machos e uma fêmea), mas eu estava relutante. Eu queria muito um cachorro, mas achava que aquele não era um momento adequado. Depois de tanto insistir, eu acabei cedendo e ele até pediu que eu escolhesse primeiro um dos filhotes. Sem saber qual levar, eu me abaixei no chão e comecei a chamar por qualquer um deles, para ver qual viria. A princípio nenhum deles pareceu se importar com a minha insistência. A Gaia era o filhote que estava mais longe de mim, de costas e apenas me olhando de soslaio. Um dos machos mais próximos se levantou e começou a vir na minha direção, mas de repente, como uma flecha e sem nenhuma explicação, a Gaia saiu de onde estava, jogou no chão o filhote que vinha em minha direção e pulou nos meus braços. Aquele momento foi o início de uma história de amor e carinho que durou pouco mais de oito anos e deixou lembranças maravilhosas.
Não havia quem não se encantasse com a Gaia, seu jeito brincalhão e seus truques. Uma cachorra tão tranquila e resignada que não reclamava mesmo quando sentia as piores dores (a minha irmã é veterinária e diz que até hoje não encontrou nenhum animal assim); e ela sentiu.
A Gaia iluminou as nossas vidas sem nunca pedir nada em troca, mas fizemos questão de trata-la como alguém da família e sempre cerca-la de cuidados. Ela partiu hoje, deixa saudades, mas estamos aliviados porque o seu sofrimento terminou.
Descanse em paz, filha. Todos nós a amamos e a manteremos para sempre em nossos corações!