quarta-feira, 12 de maio de 2010

Crônica de uma Mosca

Era uma quente tarde de verão quando eu e minhas irmãs e irmãos nascemos. Hoje é meu último dia de vida, mas lembro-me como se ainda fosse hoje: o calor era intenso e aquele cheiro de carne podre era maravilhoso! Éramos algumas centenas de pequeninas larvas de mosca-doméstica fartando-nos sobre uma carcaça de peixe esquecida num canto qualquer de uma lixeira.

Digo que é o meu último dia porque nós, moscas domésticas, vivemos apenas de vinte e cinco a trinta dias. Por outro lado, depois de colocados os ovos nós nos tornamos moscas em apenas vinte e quatro horas; depois disso, é só voar. Ah!... Como é bom voar! Nós moscas somos regidas pelo instinto básico de sobrevivência da espécie e o que mais fazemos é nos reproduzir e comer. Eu ainda não conheci nada melhor que essas duas coisas nessa minha curta vida.

Eu vivo a perambular pelas ruas, vez ou outra eu entro em uma casa quando encontro uma janela aberta. Os humanos dizem que nos odeiam, mas se isso é verdade então porque eles nos alimentam? Eu não entendo esses humanos, é muito melhor ser mosca e voar à vontade, andar de cabeça para baixo no teto, incomodar as pessoas com o meu zunido irritante e fazer porcarias por aí.

Eu já perdi muitos irmãos e irmãs vítimas de sapos, lagartixas, aranhas... E o pior de todos: o mata-moscas. Criaram uma coisa especialmente para nos matar, isso é um absurdo! Mas ser mosca tem as suas vantagens: eu faço o que me dá na telha e só preciso seguir os meus instintos básicos. Comida nunca falta e moscas fêmeas para copular também não. Vivemos hoje mais ou menos como os romanos viviam na época dos cesares: comemos, trepamos e morremos aos montes por besteira. Viu só como vocês não são tão diferentes de nós?

A minha curta vida está terminando e percebo que sou a única mosca que algum dia parou para refletir e pensar quão inútil é a minha existência. Se eu ainda tivesse feito algo importante... Mas tudo o que eu fiz foi passar por esta vida como um cometa sem ter realizado nada de produtivo, aliás, como muitos de vocês humanos.

Sinto que os meus minutos estão contados, o meu tempo está chegando ao derradeiro fim e eu gostaria tanto de fazer algo útil... Olha só, um mendigo defecando! Mudei de idéia, acho que antes de morrer eu vou fazer um lanchinho.

3 comentários:

Ananda V. Sgrancio disse...

Ainda bem que eu já almocei! rs

Gostei muito da crônica, dá pra viajar na imaginação rs Fiquei imaginando aquelas mosquinhas irritantes! rs


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www.opiniaoinutil.net

Van disse...

Muuuuuuito bom!!!
Divertido e nojento!!! rsrsrsrs
mas não é que a vida da mosca me fez pensar na minha!!! a gente as vezes faz caca e nem percebe!
Beijos Dan, muito bom

Daniel disse...

Obrigado, Ananda!
Já pensou que bom seria se Brasília fosse uma colônia de moscas? Bastava um inseticida pra resolver a situação.

Bjo
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Obrigado, Van!
Qualquer semelhança não é mera coincidência. Às vezes somos piores que as moscas. hehehe

Bjo