domingo, 30 de agosto de 2009

Vida Louca

Se em tuas brejeiras graças
eu me perdi por um instante,
não foi minha a culpa
e tão pouco foi tua.

Foi um rompante desta vida louca
que me fez querer a tua macia boca
juntando as nossas almas em uma alma una.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Nana Banana

O último dia 20 foi um dia especial porque foi o aniversário de uma amiga muito querida. A Nayara, a quem eu chamo carinhosamente de Nana, é como uma irmã caçula; daquelas que os irmãos mais velhos estão sempre atentos para saber se tudo vai bem. Além de companheira de cinema, amante de Los Hermanos, a Nana também escreve (e muito bem!).

O meu blog tem esse nome por causa de uma resposta que eu fiz, há alguns anos, a um poema dela entitulado "O Mundo em Passos". O poema da Nayara e a minha resposta estão aí embaixo, espero que gostem:


O MUNDO EM PASSOS

Eu passo pelo mundo num passo.
O que eu aproveitei dele? Eu não sei.
Eu faço do mundo um sapato
e o que eu vi, nomeei.

Sou andarilho, pescador,
sou rápido coronel.
Contador de história, retirante,
sou a pintura do cordel.

No lado, eu descanso o traço,
das curvas por em que passei.
No rastro, dos pés que engraxo,
eu descalço, rodopiei.

Sem abrigo, sou um sonhador.
Vou buscar nas asas do céu
os pés em que passo cantante
as doutrinas do meu papel.

Nayara Oliveira


NO PASSO DO MUNDO

No passo em que passa no mundo
aproveita dele um pouco de tudo:
do bom e do ruim, da noite e do dia,
pois é do amargo e do doce que a vida se recria.

De sua rica cultura sertaneja
mostra o seu verdeiro coração,
seja do apaixonado Catulo, que faz do amor uma canção,
ou dos Patativas amargurados, versando do prego e do calo.

Nesta poesia consoante ao repente
que o nobre violeiro toca pra gente
deixa navegar a sua alma inquieta
lembrando, outrora, os nordestinos poetas.

Nos laços e traços
das curvas da via a qual passou,
deixa dos seus pés o rastro
dos passos da vida que almejou

Sem abrigo não estará,
mesmo que seja um sonhador.
Terá residência sob um céu de estrelas
e as asas de um uirapurú cantador

Daniel Maia Silveira


Nana, feliz aniversário!!!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fizemos Amor

Cerramos em beijos os nossos gemidos:
as nossas bocas coladas, os nossos corpos em transe.
As minhas mãos deslizam em tuas curvas, sentidos...
Palavras ressoam fugazez, infames.

O suor extrapola os nossos poros
escorrendo pela tez e tuas reentrâncias,
é ele testemunha de sussurares sonoros,
o combustível a inflamar as nossas chamas.

As feridas que tu me infringes
marcam sulcos na minha carne branda,
são as tuas unhas fincadas em riste
arranhando o meu dorso ao gritar que me amas.

Os teus cabelos que eu outrora afagava
agora sentem com força as minhas mãos em tramas,
enquanto percorro o teu pescoço desnudo, suado e puro,
entre vozes insanas.

Nossos lábios calam murmúrios perdidos
enquanto os olhares se lançam distantes.
Nós somos figuras de algo esquecido,
enredados em abraços, chamados de amantes.

No clímax de nossas almas,
sem palavras a dizer,
trocamos risos de terna calma,
momentos de puro prazer.

Como dois ébrios entorpecidos
ocupados por carinhos incessantes,
encostamo-nos no barranco que é essa cama:
cansados, fatigados e ofegantes...

Olho para ti sem nenhum temor
e permanece no ar um pensamento:
certamente fizemos amor...

domingo, 2 de agosto de 2009

Superficialidade Emocional

Há muito tempo eu tenho pensando em uma coisa que só ultimamente começou a me incomodar, portanto achei que se fazia necessário escrever sobre ela: a superficialidade dos sentimentos.

Eu fico perplexo com a maneira como hoje são tratados os sentimentos, tanto os nossos quanto os dos outros, e isso vem acontecendo com uma freqüência realmente assustadora. Para piorar tudo: a carência emocional humana nestes tempos de frieza incontida.

É fácil perceber que em um mundo aonde o capitalismo chegou ao seu ápice, todas as atitudes se baseiam no consumismo, no modismo, no cinismo e mais uma porção de outros “ismos” que fizeram do homem apenas um coadjuvante do espetáculo e, com ele, todas as suas boas emoções. Os relacionamentos se tornaram descartáveis: hoje se está com uma pessoa, daqui a uma semana já se está com outra fazendo juras de amor eterno. Que amor? Nem mesmo se sente com a profundidade do coração, troca-se de parceiro como se troca de roupa e os sentimentos da outra pessoa ficam negligenciados, pois o imperativo é cultuar o egoísmo.

A carência emocional vem justamente dessa relação de frieza que cria lacunas sentimentais que não podem ser preenchidas. A busca desesperada por algo que a suprima acaba levando a pessoa a cometer erro atrás de erro, tornando-a emocionalmente vulnerável e mentalmente confusa. Vivemos em um mundo de pessoas carentes e confusas! Essa carência surge de qualquer relação mal feita, seja na família que não dá apoio, seja naqueles que deveriam ser amigos de verdade, seja no companheiro(a) que não quer perceber as necessidades do outro(a). Como a maioria se deixa envolver por essa sociedade superficial, as uniões se tornam gélidas e com um único objeto: satisfazer a vontade própria, o prazer.

Um dia desses uma amiga disse sobre o noivo dela (que também é meu amigo): “Eu o amo por várias razões, mas também pela pessoa que ele é”. Esse é o tipo de amor que as pessoas se esquecem de cultivar, amor verdadeiro! Por essas e por outras que eu sei que eles são felizes e que nas dificuldades o sentimento que um tem pelo outro fala mais alto, pois não é superficial e tem raízes profundas. É uma pena que hoje em dia eles sejam a exceção de uma regra que, aliás, é bem cruel.

Se parássemos de olhar um pouco para o nosso próprio umbigo, talvez fossemos capazes de perceber quanta coisa boa temos a ganhar ao tratar a todos com um pouco mais de carinho e respeito; falar olhando nos olhos aquilo que nos aflige e dar a chance para que as outras pessoas não se tornem reféns de nossas armadilhas emocionais. Manter relacionamentos baseados em laços realmente profundos e verdadeiros e, acima de tudo, não fazer ao próximo aquilo que não queremos para nós mesmos, talvez seja um bom começo para recuperar o pouco de humanidade que ainda nos resta e incentivar os demais a fazer o mesmo.